Dúvidas
Morte precoce de pessegueiros intriga produtores
Sem diagnóstico para a causa da doença, agricultores temem prejuízos e estimam quebra de 30% na safra
Divulgação -
Há três anos, a produtora Carla Jardel Romão e Silva, 50, plantou 1,5 mil mudas de pessegueiro em sua propriedade, na Santa Eulália. Estavam lindas, verdes e, de repente, em dois meses, os galhos começaram a escurecer, não brotando folhas verdes, até que a alternativa foi arrancar todos os pés. Nos pomares adultos, com 15 anos, havia a esperança de que morredeira dos pessegueiros (forma mais comum usada pelos cultivadores) não fosse ser atingida. Entretanto, das 600 plantas, 50 já apresentam a doença, sendo que os pomares afetados estão espalhados de forma aleatória.
Os motivos que têm levado à morte das plantas podem ser vários. No entanto, pesquisadores ainda não encontraram um único causador, o que gera desconforto entre os agricultores que temem pela quebra de safra. A Embrapa tem feito vários projetos de pesquisas na tentativa de apoiar o setor e evitar prejuízos, mas a cadeia produtiva já trabalha com uma estimativa de 30% de perdas, se somados os efeitos do excesso de chuva e aos dias muito frios. Embora seja cedo para dar números à produção, com estes fatores climáticos e a morte precoce o indicativo é que fique bem abaixo das 28,5 mil toneladas da última safra.
"Achei que fossem as mudas. Pode ser o excesso de chuva no inverno ou herbicidas. Mas, se fosse, as minhas plantações da Colônia Maciel apresentariam problemas", questiona Carla, que produz a variedade Sensação. Seu vizinho, Jones Becker, 36, está quase abandonando o cultivo do tipo Esmeralda. O plantador mostra uma fileira de pessegueiros sem problemas e, logo a do lado, outra com os galhos escurecidos. "Nos pés infectados pela morredeira, os botões secaram e nem abriram flores." O produtor conta que a síndrome da morte precoce oscila entre anos de safra, como agora, além de aparecer em algumas regiões e outras não, o que torna a situação mais intrigante e mais desafiadora.
"A Embrapa pesquisa há anos e não encontra uma resposta. Acho que pode estar associado ao fator climático", palpita Becker. Desiludido com tantas perdas, sendo que sua estimativa para este ano seja uma quebra de safra de 40% a 50%, contando o volume de chuva, frio intenso e a morredeira, ele pensa em desistir do pêssego. "Há sete anos que a indústria castiga o produtor, pagando pouco pelo fruto. Assim, a cultura se torna inviável", desabafa. Nos últimos anos o produtor reduziu de cinco mil para 1,2 mil pés da fruta e já trabalha com milho e gado.
Toda a região
Presidente da Associação Gaúcha dos Produtores de Pêssego (AGPP), Mauro Rogério Scheunemann diz que o problema atinge toda a região. O frio, porta-enxerto do solo e umidade podem estar entre os fatores causadores da doença. "Hoje ainda não temos um diagnóstico. O que sabemos é que ocorrem em anos mais frios e úmidos." A associação ainda não sabe o tamanho dos prejuízos, diz ainda ser cedo. Entretanto, trabalha com uma margem de 30% na quebra da produção da safra de pêssego. "O pêssego recém está virando fruto, então é muito difícil prever a produção. Mas acho que não chegaremos a 20 milhões de quilos." Atualmente, a região tem mais de mil produtores da fruta. Desses 605 estão em Pelotas com uma área de 2.850 hectares.
Estudo e alerta
A Embrapa Clima Temperado, que estuda o tema há décadas, diz que o problema não é novo. As primeiras constatações da morte precoce foram feitas por extensionistas do escritório de Pelotas da Emater, no final da década de 1970. Desde então, vem sendo pesquisado pela empresa nos seus diversos projetos de pesquisa, com maior ou menor intensidade em alguns dos fatores envolvidos.
Segundo os especialistas do Núcleo de Fruticultura, a morredeira é uma síndrome, ou seja, são múltiplos fatores envolvidos e que interagem ao mesmo tempo no campo. O exemplo citado pelos pesquisadores é a falta de controle sobre a intensidade e a frequência das chuvas ao longo do ano (e entre os anos). O mesmo raciocínio pode ser feito com relação às temperaturas do ar, principalmente no outono e inverno. Sobre qual o impacto dessas flutuações do clima sobre os pessegueiros e por qual razão algumas plantas apresentam sintomas de morte precoce e outras, ao seu lado, não tem sintomas, são questões que tornam o problema complexo, sendo impossível apontar um único fator como a única causa do problema.
Ainda conforme a equipe, a primeira reunião do Sistema de Alerta para a cultura do pessegueiro safra 2022 tratou o problema, bastante evidente nos últimos dois meses. O grupo segue na execução de projetos de pesquisa, principalmente com a continuidade das unidades de observação com fruticultores parceiros e a capacitação de técnicos, produtores e estudantes.
Orientação
Na busca de soluções para amenizar os prejuízos, o grupo indica as boas práticas da agronomia e da fruticultura. Dentre elas, evitar áreas com solos rasos e aqueles propensos ao acúmulo de água; realizar correta amostragem e análise de solo; realizar correção do pH e da fertilidade do solo em pré-plantio; subsolagem em pré-plantio; construir camalhões (pequena elevação no solo) com desnível, para favorecer o escoamento do excesso de água; uso de mudas de qualidade adquiridas de viveiristas registrados no Registro Nacional de Sementes e Mudas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Renasem); realizar irrigação e adubação em pós-colheita, bem como o controle de plantas daninhas no pomar. A adoção do conjunto dessas práticas culturais favorece o bem-estar das plantas de forma que, estando bem nutridas e bem hidratadas, possam conviver melhor às variações do clima da região.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário